Algo sobre amor x possuir, limites do tolerável e amor sem limites...
Se o amor verdadeiro é incondicional, porque ele tem que ser perfeitinho? Faz bem pra alma não precisar provar pros outros o quao o seu gato tem uma raça, é perfeito ou o tanto que ele se parece com um gato "normal". Animais deficientes também estão aptos a dar e receber amor. E vou mais fundo: sobre adotar um animal especial, não é somente aquele que falta um olho, pata ou rabo...Estes de longe se vê o quanto são especiais, apenas fisicamente. Especial mesmo é aquele animal que possui uma gengivite que requer tratamento contínuo, felv+, fiv+, renal, idoso,... Estes sim são mais do que especiais, são almas sedentas de uma chance.
A gente ama tanto, e absolutamente não questiono isso, apenas penso que falta uma certa ousadia pra adotar um animal que não é tão bem visto, que por vezes tem carinha de doente e vai levantar a dúvida do espectador sobre os cuidados que recebe, eis o desafio!
Alguns requerem maior acompanhamento veterinário e é compreensível (e necessário) que isto seja levado em conta na hora de adotar, no entanto, ainda penso que o peso maior é mesmo o medo do novo e do preconceito alheio, e principalmente o medo de sofrer uma breve perda.
Sobre a perda, porque não falar disso? Nossos pequenos felinos vivem em média 15 a 20 anos se tratados com ração adequada, castrados e criados "in door". É este o mímino que exigimos para uma boa adoção, mesmo assim todos nós vamos em algum momento da vida perder os nossos bigodinhos amados. Ninguém quer perder quem ama, mas a morte faz parte da vida e o inevitável pode vir com um sabor de satisfação pela abnegação e altruísmo em adotar um ser que pouco viverá e que carece da oportunidade de gozar, mesmo que por pouco tempo, de carinho, conforto e amor.
Certa vez li em um livro espírita algo tão lindo sobre a desencarnação dos animais que gostaria de dividir aqui. Diz a doutrina que algumas almas tem tanta bagagem de sofrimento em suas diversas encarnações, que as vezes precisam apenas conhecer o que é ser amado e respeitado para transpor isso tudo. De fato, não tem como não lembrar dessa passagem quando perdemos um ser precocemente, seja quando vemos morte de crianças, ou neste caso falando dos nossos queridos animais de estimação.
Tudo isso é muito bonito quando não nos coloca numa sinuca de desprendimento. Somos capazes de fomentar um sentimento lindo e puro sabendo da possibilidade de uma breve partida?
E se você pensar que o tempo de vida dele é o mesmo estando no seu lar ou num abrigo lotado de animais? o que é melhor? Ou ainda mais instigante: As chances de um animal doente sobreviver em um ambiente com qualidade de vida é muito maior, por que não SER esta saída?
Adotar por si só, não digo apenas que é um ato de amor, vejo como responsabilidade diante de uma sociedade que com milhares de cães e gatos morrendo nas ruas ainda há pessoas comprando animais oriundos de "fábricas" de filhotes. Absolutamente nada contra animais de raça, apenas não vejo sentido em escolher um companheiro pelo tamanho e cor do pelo ou tamanho do focinho e orelhas, enquanto há tantos tão maravilhosos quanto que de fato precisam de um lar.
O que eu quero para nós? Desprendimento! Que façamos mais por eles e menos por nós. Amo ver a "Patricinha" com o Vira Lata super bem cuidado que vai na pet shop e tudo mais! Amo ver a senhora que adota um animal especial, e por vezes deformadinho, porque dispõe de tempo e amor suficientes para cuidar. Amo ver quem adota um gato mais arisco, e o ama incondicionalmente por saber que ele está ali presente e pode lhe proporcionar todo cuidado e carinho que teria um animal sem qualquer trauma.
"Um homem só é nobre quando consegue sentir piedade por todas as criaturas" Buda
Bruna Melina Flesch Doberstein